Problema econômico OU ambiental?

Todas as referências sobre PL afirmam ser um problema econômico E ambiental.

Porém, podemos qualificar melhor: é um problema de desperdício de luz (econômico) com consequência ambiental, OU é um problema fundamentalmente ambiental, com agravante econômico (desperdício de luz)?

Mais do que filosófica, esta questão visa mostrar como devemos agir para combater a PL.

Pressupondo a existência apenas das luminárias antigas (baixa eficiência luminotécnica, e com percentual alto de luz dirigida para o alto), temos a impressão de que podemos agir pela via econômica, convencer a todos de que trocar as luminárias trará benefício a médio prazo, com a economia de energia pagando a conta.


Para muitas cidades do interior isto é válido; para muitos condomínios horizontais particulares, e para áreas residenciais antigas com luminárias deste tipo aí de cima, também.

Mas isso as concessionárias de energia do Brasil já sabem. Se não acontece a troca das luminárias, é por falta de verba/investimento, ou por falta de projeto, ou por falta de definição, ou por pura inoperância. Mas quase todas elas tem algum projeto no sentido de melhorar a eficiência energética da iluminação pública.

E o que acontece quando a eficiência chega ao nível dessas aí abaixo, com 90% da luz sendo aproveitada, e apenas 3% de luz indo para o céu?



Estes 3%, sendo aplicados sobre um imensamente maior fluxo luminoso, significam mais PL que antes, com as luminárias antigas, pouco eficientes e lâmpadas fracas (como você leitor pode ver na página "Situação no DF: o que a CEB tem feito?").

Neste caso o problema continua sendo de desperdício? Mais que isso as distribuidoras de energia perdem com a resistividade dos fios.

Como eu disse na página "Situação no DF: o que a CEB tem feito?", a CEB está resolvendo o problema dela. E está também atendendo os anseios de uma sociedade mal informada, que pensa que mais luz = melhor iluminação = mais segurança.

Neste ponto, todos os fatores econômicos exceto o OFUSCAMENTO e o EXCESSO DE ILUMINAÇÃO foram superados.

O Ofuscamento pode ser considerado um fator econômico na medida em que a troca de luminárias ofuscantes(de vidro curvo) por luminárias não ofuscantes (de vidro plano), pode permitir a utilização de lâmpadas de menor potência e mesmo assim obter o mesmo resultado em termos de visibilidade dos objetos, pessoas e automóveis ao longo da via.

Imagino que qualquer pessoa, quando solicitada a comparar uma via iluminada com luminárias de 400W e vidro curvo (semi-cutoff, muito ofuscante), e outra com luminárias de 250W e vidro plano (full-cutoff, não ofuscante), terá dúvidas ao apontar a que está MELHOR iluminada. A luz ofuscante das luminárias de vidro curvo faz o olho contrair a pupila, e assim os lumens a mais são perdidos. Além disso o ofuscamento diminui a capacidade de distinguir rapidamente objetos na via.

Porém este conceito ("visibilidade") é muito vago e carece de ser definido formalmente e regulamentado. É quase impossível convencer engenheiros (que se prendem às normas) da importância deste conceito. A norma NBR5101, de 1992 (que regulamenta a iluminação pública) fala de iluminância (quantidade de luz que a área a ser iluminada recebe), e uma mudança provável ainda em 2011 introduzirá o conceito de luminância (quantidade de luz que a área iluminada reflete na direção do observador). Como levar isto para o campo das licitações, por exemplo, que precisa se basear em normas? Como quantificar a melhora da visibilidade advinda da redução do ofuscamento?

Quanto ao excesso de iluminação, passa pelo convencimento da sociedade, de que o excesso de luz é prejudicial (ou no mínimo desnecessário). Hoje a sociedade está "disposta a pagar" pelo excesso de luz, mas acredito ser por falta de conhecimento sobre qualidade de iluminação pública.

E no caso das luminárias de vidro plano, instaladas em ângulo? O ofuscamento dos motoristas que transitam na via está resolvido, pois a inclinação é perpendicular ao sentido de direção. Mas a PL continua...


Onde quero chegar? Quero dizer que aí chegamos ao ponto em que não adianta mais usar argumentos econômicos. A partir do momento em que tratarmos a PL como problema ambiental, aí poderemos focar nosso discurso na redução da PL. Mesmo porque, há muitos casos de iluminação causadora de PL, como por exemplo as luzes de outdoors, que não influem absolutamente nada na qualidade da iluminação pública, mas que aumentam muito a PL. Contra estes, não há argumentos econômicos.

É preciso fazer como as outras "minorias" preocupadas com o meio ambiente: BARULHO, muito barulho. Somente se tratando a PL como problema ambiental que é, podemos conseguir que um dia hajam normas ditando a angulação zero e os vidros planos nas luminárias públicas.

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